Depois de tantas horas daquela mesma conversa, ela na poltrona, eu no sofá, os copos se esvaziando na mesma velocidade em que os cinzeiros se enchiam, os planos na mesa dividindo espaço com as últimas flores do vaso, a luminária acesa no canto da parede, os sapatos largados sobre o tapete, começamos a escutar o barulho da chuva, suspiramos ao mesmo tempo e combinamos ter mais disciplina. Precisamos parar de quebrar tanta louça em casa, e saber quando é hora de trocar o óleo do motor. Precisamos conseguir guardar algum dinheiro, pra conhecer New York ou comprar à vista um vestido, um quadro para poetisar a parede, uma cortina para poder dormir até tarde aos domingos. (Precisamos de mais domingos como esse). Combinamos de combinar um jeito para termos certeza que ambas cumprirão sua parte no acordo, e de combinar também sessões de filmes bobos e alegres, depois dos quais esqueceremos um pouco de todo esse assunto sério, relembraremos antigas paixões e selaremos o contrato final: deixaremos as portas abertas, e saberemos quando esquecer o guarda-chuva em casa.
"- Toque nela com cuidado - disse Santiago. - Senão ela foge.
- A coisa ou a pessoa?
- As duas. "
Caio Fernando Abreu.
obs. este blog não segue o Acordo Ortográfico (por tempo indeterminado).
2 comentários:
Temos um acordo, e farei o possível para cumprí-lo.
E devemos mesmo ter mais domingos como esse, talvez em outros troquemos os copos por filmes. Mas as conversas nunca podem faltar. Fundamentais!
Adorei. E adoro. =)
beijos Fe
viva o boicote ao acordo ortográfico!
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