Então nunca mais: nunca mais um milk-shake na praia colorida de pipas alheias aos teus braços enroscados nos meus, nunca mais teus jeans surrados debaixo dos meus vestidos intermináveis, nunca mais flores que saem dos teus bolsos para os meus, nunca mais tua rouquidão às três da tarde, nunca mais juntar nossa paixão desmedida por Vinícius, nunca mais os teus pratos cheios de sushi enquanto eu tento decifrar alguma coisa em você, nunca mais tua alegria com a tua vontade de dançar, nunca mais tuas demoradas conversas no telefone enquanto eu te olho e resolvo onde, meu deus, onde te encaixar nessa minha vida, nunca mais tuas paredes cheias de cor, nunca mais teus cabelos dentro das minhas mãos, nunca mais tua imitação de Jards Macalé, nunca mais o barulhinho do vinil rodando mudo na vitrola ("tá fazendo um ano e meio amor / que o nosso lar desmoronou"), nunca mais te telefonar para aplacar desamparo, nunca mais te encontrar pra me deixar largada no teu peito, nunca mais te avistar estatelado na areia teus lábios se descortinarem num sorriso largo, nunca mais tuas mãos despudoradas que faziam do meus rosto teu império, nunca mais tua mansidão, nunca mais teu abraço enorme e cheiroso que punha fim a qualquer uma das minhas tentativas de raiva contra você, nunca mais declarações de amor descabido entre dentadas num filé-com-queijo, nunca mais teus (meus) apelidos cafonas, nunca mais toda a bagunça que você deixa quando parte sem aviso, nunca mais me sentir possível ao teu lado, nunca mais te ter no banco do carona, nunca mais essa saudade lancinante que ataca toda vez, nunca mais essa vontade de conversar por horas a fio e afinal te deixar improvisar monólogos só pra ficar quieta e ouvir tua voz, nunca mais o teu carinho derramado em cada olhar, nunca mais aquela dúvida que a gente tem de não saber o que fazer um com o outro, nunca mais esse teu jeito de falar como quem sublinha palavras, nunca mais toda uma felicidade que eu nem sei mesmo se um dia eu senti com você, nunca mais essas apostas que a gente fazia em tardes de janelas trancadas pro mundo, nunca mais tardes de janelas trancadas pro mundo, nunca mais, então.
:: Acontecimentos - Marina Lima
6 comentários:
E mesmo assim eu espero acontecimentos.
"nunca mais aquela dúvida que a gente tem de não saber o que fazer um com o outro, nunca mais esse teu jeito de falar como quem sublinha palavras"
Você é foda, madame!
É festa aqui na minha casa! Podem aparecer : )
Muito legal seu texto, Julia. Espero conhecê-la um dia!
Besitos
nossa... abalou! muito bom!
respirando fundo... uiui.. aiai.
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