Foi mais por causa de Led Zeppelin do que pelo tempo, e me peguei pensando em chuva muito antes de desabar o toró. O caso é que suas duas músicas onde a palavra “rain” consta dos títulos foram precisamente as únicas ocorrências de felicidade daquela semana em que sol nenhum adivinhou o que eu queria, porque, de verdade, ele nunca adivinha.
E porque só a Rita poderia entender a questão e ainda tomar partido dela, enviei por email uma lista de 21 canções que contém o termo inglês no título, para saber se todas são tão brilhantes quanto aquelas, e algumas de fato são, e outras são só outras. Seguimos na empreitada e criamos a tradução da lista, com músicas que contém “chuva” no título (14, valendo uma corruptela para não negligenciar “Chovendo na Roseira”).
A obsessão foi além, a Rita não desligou do assunto e passou dias a fio escutando Plant e Page, e naquela semana me enviou mensagens onde tentava encontrar a melhor canção para escutar na seqüência do Led Zeppelin. Unânimes, resolvemos que só Janis Joplin poderia fazer isso com perfeição, sem estragar ou quebrar o clima. Mas de repente empacamos e eu comecei uma pesquisa ensandecida pela playlist perfeita, o que ainda está em curso e julgamento.
Minhas manias atacam especialmente nesses dias molhados, e agora que dilúvios já me deram lição de moral suficiente para não mais arriscar a vida de meus sapatos por aí, uso o cachorro como esquenta-pés, invisto no meu relacionamento com a atendente da vídeo-locadora e, claro, dou asas à minha síndrome de Rob Gordon. Não estipulo, porém, um all-time-top-5 como ele o faz, e sim reúno a maior quantidade de alguma coisa (preferencialmente inútil) numa lista que nunca tem fim: ditados populares que envolvem animais (39), músicas que contém dias da semana no título (12 em inglês, 5 em português), bandas que começam com “The” (24, mas me pareceu chata no meio), cremes hidratantes para as mãos que já testei (6), músicas com nomes próprios no título (48).
Quando algum resquício de sanidade volta à minha cabeça e eu preciso atender o telefone ou beber água, penso que já escrevi tanta coisa sobre chuva e me dou conta de que o temporal deu trégua. É quando decido comer, e percebo que sob as árvores nunca pára de chover. De repente sonho com as calhas da casa de Penedo, que me davam os melhores banhos das tardes de verão.
Mas é primavera, eu não te amo e Santo Antonio nunca veio em meu socorro.
À saída do restaurante um sujeito de boné me aborda, eu aperto a bolsa pensando que é assalto, e só quando engato a primeira marcha é que me dou conta de que ele queria saber meu nome, e de como ficou impossível ser romântica nessa cidade. Suspiro, e me ataca isso que também brota com a água que não pára de cair: saudade. Encho a cara de chocolate-quente e me especializo numa preguiça chorosa, e por fim decreto essa lista que encerra meu fim-de-semana e que só possui um item: pessoas com quem eu dividiria o edredom hoje, e com o lápis já gasto, providencio o conserto: pessoa, você.
vols. 1 aqui e 2 aqui.
5 comentários:
Dividir o edredom com essa pessoa, no singular, numa tarde preguiçosamente achocolatada, é tão gostoso quanto não amá-la...
Adorei suas palavras, Julieta.
Besos
Obrigada, Carmen!
"De repente sonho com as calhas da casa de Penedo, que me davam os melhores banhos das tardes de verão."
Não tomei banho das calhas, mas frequentemente me flagro com esse de repente de Penedo... Bons tempos...
beijo
Muito bom Júlia!
Lindo Julinha!
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