sábado, maio 01, 2010

Diálogos com um(a) sobrinho(a) - vol. I

Era um baldinho em forma de peixe, desses que as crianças levam para a praia cheio de ferramentas dentro: pás e forminhas para fazer bolinhos de areia. Ou buracos que nos levariam ao Japão, à China, e a um monte de outros países que ainda nem sei se aprendi direito: um dia sentaremos juntos em frente a um globo iluminado e escolheremos todos os destinos que couberem em nossos cadernos de viagem: sim, é bacana manter cadernos de viagens, e outros tantos um pouco inúteis.

Depois foi uma caixinha pequena, de papelão e cheia de cores, de onde juntos puxaríamos diversos cartões, e em cada um deles haveria o começo de uma história: era uma vez. E então caberia a nós continuarmos: poderíamos separar príncipes de princesas, inventar bruxas dóceis, fabricar céus de marmelada e árvores de tangerinas (um dia, fatalmente, você descobriria que os Beatles já tinham inventado isso antes, mas tudo bem).

E os casacos de plush: com capuzes e aconchegantes, mesmo que a nossa cidade seja esse exagero de calor e suor, e os sapatinhos: olhando os sapatinhos eu pensei que era mais lógico que bebês andassem (ou não) descalços, com os pezinhos sempre acima das cabeças, ensaiando passos de dança acrobático enquanto alguém já crescido empurra o carrinho.

Aí eu comecei a perceber que já estava elitizando ensinamentos e lições para você: eu tinha pronta uma lista de verdades e mentiras sobre o mundo, prós e contras sobre tantos aspectos da existência, e dicas para economizar água. Quanta besteira: seu mundo vai ser outro, vai ser, exatamente, o que você escolher.

Foi quando eu resolvi que qualquer coisa seria piegas, e porque essa é a nossa primeira despedida, resolvi enfiar o pé na jaca. Pra você, neném, eu afirmo isso: invente o seu deus, escove os dentes toda noite antes de dormir, escute toda a música que puder, cultive paixões e escolha sempre as pessoas que vão te ajudar a fabricar sonhos: são elas as melhores, as mais especiais, e as que vão te servir de bússola.

São só 3 semanas: eu voltarei cheia de presentes, saudades e essa felicidade sobre a qual ainda não aprendi a escrever.

3 comentários:

Anônimo disse...

Genes, assim vcs me matam !!!! lê

bruna disse...

remember to let it into your heart.

Rita disse...

Comoveu Ju! Eu conheço essa alegria em dose tripla, vc vai ver que não tem nada melhor. Pra que ter filhos quando se pode ter sobrinhos...

Minha dose tripla não conta com nenhum cromossomo Y, e vc já arrumou um logo de primeira! O problema é saber quem vai ser a alma salvadora que vai levar o moloque pro Maracanã, já que a dindinha não é chegada...