quarta-feira, maio 05, 2010

O dia em que cortei cebolas

Teve garoa à tarde no dia em que cortei cebolas, e porque desde que cheguei nessa terra só fazia calor e sol eu pensei que a chuva fina tinha um quê de especial porque anunciava o frio, o casaco de lã, um guarda-chuva novinho em folha e quiçá epifanias.

Desci a Rua Augusta cantando e, distraída que estava, fui andando pra casa sem me importar com a poluição. Não arrisquei respirar fundo, porém, seria um descuido e uma impossibilidade, visto que por volta das 18 horas o nariz começa a entupir: em São Paulo, parece, até a alergia é profissional e cumpre horário de trabalho. E junto da alergia vem essa coisa que dá nos olhos, e que é um misto de coceira e ardência, e atravessei a 9 de Julho pingando colírio, aquele prescrito cheio de substâncias e que promete aumentar a produção de lágrimas, essas que haviam sido decretadas escassas e insuficientes para meus olhos.

Eu já andava pelas ruas engarrafadas do Itaim quando entrei no supermercado, uma vontade de comer massa ou qualquer outra comida que ficasse pronta depois do simples e sublime ato de ferver água: brócolis para acompanhar, queijo derretido pra jogar por cima e gelatina de sobremesa. E uma salada de tomates e cebolas, que aí é mais mágico ainda e só precisa de azeite. Com sorte haveria ainda alguns goles de vinho no armário, e mesmo que não houvesse, eu ficaria enrolada em cachecol, esquecida no sofá. Com mais sorte ainda, dessas que nem amuletos ou simpatias garantem, a gata passaria mais um dia sem me atacar.

Panelas no fogão e abridor de vinho decifrado: seriam necessários mais lenços de papel, mais gotas do suposto milagroso colírio e em outros dias seria preciso, também, janelas anti-ruído que silenciassem os esperançosos torcedores do Corinthians.

Mas no dia em que eu cortei cebolas nada poderia estragar minha noite, tamanha foi a especialidade do evento anunciado pela garoa.

No dia em que cortei cebolas o porteiro me deu boa noite me chamando pelo nome, eu fui útil na Alameda Lorena e o risoto do almoço compensou a espera. O ponto alto do dia em que cortei cebolas teria sido o fato de que a gata lambeu meus dedos da mão, selando o começo de algo que pode vir a ser uma grande amizade de 3 semanas. A revelação, porém, era outra: no dia em que cortei cebolas chorei lágrimas em abundância.

3 comentários:

Beta Germano disse...

Gelatina de sobremesa,twin? onde estava a julia para inventar algo mais elaborado e delicioso?

Não se deixe enganar pela gata...a lambida fofa de um dia pode se transformar em unhada.

e sim...lágrimas em abundância fazem bem! - já diria a moça da massagem que me torturou.

FULANAS MULTIMARCAS disse...

Saudades !!!!!!!!!!!!!!!

Anônimo disse...

Envia pro oftalmo!!!!! minas