Fiz minhas malas de novo, peguei um trem pra longe e entre hambúrgueres e sopas de tomate resolvi ir além. Trem, pontes e marrecos pelo caminho, lagos que pareciam cercados de trigos, não tinha sequer como fotografar. Subi um caminho que poderia ser uma pintura do Hopper, vi tanto espaço e luz que dancei por entre riscos e cores. Tudo ali pode parar o tempo, e é pra esses lugares que sempre quero voltar: um castelo do século XVIII, uma praia onde se criam tartarugas, um jardim cheio de esculturas, a tela de um pintor. Virei a barra da minha calça jeans, cruzei as pernas, mas a pose funcionaria melhor se fosse você. Entendi que não se pode listar quadros que nos fazem nascer de novo, tampouco contar os blocos que nos separam de uma foto inesquecível. Qualquer cidade nova me faz andar. It might just be fantastic, don’t get me wrong*. Enchi a cara e ainda sinto os efeitos: ando alcoólatra esses dias, tomando apple martinis imaginários que me reviram o estômago como você faria, se pudesse. Guardei tickets, ingressos e ainda algumas poucas atrações para poder voltar, além de uma folha seca pra minha coleção. Apertei tanto os amigos que juntos explodimos e combinamos um dia, talvez, voltarmos a viver na mesma cidade. Combinamos também dias num barco, com sol. Não encontrei vazios ou buracos no skyline, não me escondi do vento, não economizei nos vestidos. Cruzei com tantas pessoas interessantes, teria feito tantos retratos quanto pudessem os negativos, mas depois do segundo dia perdi o foco. Fiz um novo álbum de viagem e voltei pra casa sem nenhum caderno a mais na bolsa. Eu soube ouvir e conversar sobre todas as coisas sem qualquer tropeço. Eu coube com perfeição entre você e as almofadas do teu sofá, e combinei de namorar o Daniel. Eu fiquei meia hora parada em frente a um Klimt e não vou saber explicar. Sempre chego inteira nos destinos e saio deixando pra trás alguma coisa. Dessa vez eu diria que foram as pernas, mas ainda não inventariei meus órgãos vitais pra ter certeza de que estão todos aqui. No trem de volta batia um sol no rosto e o ipod adivinhava tudo. De repente era possível ser estupidamente feliz. Será que se a gente tivesse mais das coisas, conseguiria saciar a saudade delas?
* Pretenders in Don't get me wrong.
2 comentários:
"Eu fiquei meia hora parada em frente a um Klimt e não vou saber explicar". Quer ser minha amiga? :)
Brincadeiras a parte, adorei! Sempre passo por aqui, sou leitora assídua.
Beijos,
Paula Raja
obrigada, Paula, que bom saber!!
um beijo,
Julieta
Postar um comentário