My dear,
Eu e minhas ideias: hoje fui a praia. Hoje é um daqueles dias em que eu poderia ter uma lareira. E eu fui a praia. Daqui do alto nunca dá pra ver o que acontece no litoral, portanto descer à rua é sempre surpreendente, de modo que fui cheia de casacos à clínica de vacinação enquanto todos caminhavam de roupas leves sob o melhor sol que temos por aqui, o de outono. Horas depois eu me defendia do vento, e da areia que subia com ele, com uma revista que ficou pela metade, e com um pedaço de praia dentro. Nem mesmo havia os bravos homens que alugam cadeiras e guarda-sóis (guardas-sóis? Guardas-sol? Meias-calças? Here we go again...) durante todo o verão. Um vendedor de mate parecia com medo das nuvens que surgiam por detrás do Dois-irmãos. Eu me distraí com um poema e quase não percebi.
Eu poderia me especializar nessa coisa de programas insólitos. Passeios de bicicletas que deixam hematomas por duas semanas. Viagens atrasadas porque eu jurava que o voo era num horário quando era no outro. Dormir uma noite em Nantes porque o avião não pode chegar. Perder sua casa uma vez porque planejei voar na pior tempestade de neve europeia dos últimos cem anos. Perder sua casa uma segunda vez porque a minha conta poupança ainda não dá conta de todos os câmbios, e a minha agenda ainda não dá conta de todos os tempos. Operar o olho e ficar com tudo ao contrário. Ir pra aula de natação pra salvar as costas e quase matar os braços.
Eu me distraio à beça com todas essas coisas: os dias, dinheiros, meios de transporte verdes, plural da língua portuguesa.
Hoje eu queria ir de novo à última festa em que fomos juntas...
Ainda nem te contei do trabalho novo e de tudo o que já ri com ele. Eu sei que a gente muda de ideia sempre, que para e pensa de novo, que volta atrás, que retira o que disse, que, horror!, eventualmente cospe no prato em que comeu, que pede desculpas, que inventa uma lista de hipóteses etc. Mas se eu fizesse um resumo dos últimos três dias, diria que tem amor e fascínio envolvido. Penso que não há possibilidade de ser ruim. Dessa vez eu não quero estar errada a respeito disso.
Hoje é um daqueles dias em que eu poderia ter um namorado. Ando tão feliz que agora me parece que isso seria possível. Acho que tocou essa música no casamento: I’ve had the time of my life. Nosso ano começou com fogos, banquete, uma viagem de trem e o melhor croissant de Yville-sur-Seine. Desde então, parece que todos os dias tem tido ao menos um desses elementos. Me parece que é irreversível, que nem saudade.
Putz grila, essa migração, esse fuso-horário.
Tenho um jantar me esperando, e um encontro com novos amigos e vinhos. Ou dois filmes, um chá alemão (sorte que menta é menta, e verde, em qualquer lugar do mundo) e o meu edredom.
Wish me luck.
um beijo,
Nenhum comentário:
Postar um comentário