quarta-feira, junho 08, 2011

Lanterna dos afogados, o retorno

(para ler ao som de The Swimming Song – Vetiver)

Eu sou uma pessoa má: eu julgo a indumentária alheia, creio que existem bebês feios, amaldiçoo um ou outro escritor, menosprezo todas as séries do Multishow.

Por outro lado, eu não sou uma pessoa competitiva, de modo que, ao final da aula de natação, quando a professora me informou que eu havia nadado 900 metros, eu não fiquei feliz, impressionada ou desafiada a aumentar a minha marca para 1 kilômetro. Eu continuei esbaforida, achando que aquele esporte servia mais como exercício expiatório de toda e qualquer culpa que eu poderia ter e fiz planos radicais de diminuir meu rendimento para módicos 400 metros.

Freud e todos os outros pensadores devem ter explicações embasadas que justifiquem o fato de eu ter voltado à natação. Os meus motivos são os que seguem.

Nadar é resolver seus pecados em tempo de no dia seguinte poder comete-los todos outra vez. Qualquer xingamento a terceiros se dissolve nas primeiras braçadas e pernadas de crawl. E também, convenhamos, depois de 5 quilos adquiridos em embriagantes e calóricas viagens, e de uma esperança que acendeu as luzes da minha agonizante vida afetiva, ter uma barriga e duas pernas socializáveis virou item de urgência na minha agenda.

Além do mais, a minha nova professora de natação tem cara enfezada e bota fé no meu teatro desesperado, logo, ela não vai me empurrar pro nado golfinho ao menos até o final de agosto, que é quando termina o meu plano trimestral que estupidamente adotei. É claro que tal decisão foi tomada depois de uma aula. Pico de endorfina, sentimento de superação. Sair viva e andando da aula de natação é motivo mais que suficiente pra escrever todo um livro de auto-ajuda: você não morreu sufocada, aguntou firme o figurino patético e o olhar de pena da professora.

Mas vitória mesmo é sobreviver ao professor pró-ativo de hidroginástica. Todas as vezes em que eu alcançava o outro lado da piscina, ali onde dava pra escutar a música do Ed Motta que parecia tocar em looping (“mia, arranha o sol, uuuuuu...), ele tinha na ponta da língua uma frase de incentivo: “no começo é difícil mesmo, depois fica mais fácil.” O que ele nunca entenderia, e eu nem ousaria explicar, é que o “depois” dele tinha uma conotação bem diferente da minha: ele pensava em um mês ou dois, eu pensava em reencarnação. Ele continuava seu discurso otimista, eu pensava em espanca-lo.

Na segunda semana de natação, eu implorei pra minha chefe me prender numa reunião interminável, mas eu era muito nova naquele escritório pra participar de qualquer evento desta importância, e lá fui eu, plano infalível, fingir afogamento antes de completar 200 metros e, sob a alegação incontornável do trauma, nunca mais me arriscar numa piscina.  

3 comentários:

Rach disse...

Mas a moça da Acquatop continua te ligando às sextas-feiras?

Lu disse...

Comprei maiô, óculos, touca e até mp3 player aquático. No primeiro dia calculei mal a profundidade da piscina e ao pensar que ia afogar tentei agarrar a escadinha… só o afobamento (com o afogamento) foi tamanho que machuquei seriamente a mão. E não voltei mais pra piscina… Bursite no ombro, mão machucada, "poteitos", potatos!

Julieta disse...

Rach, a mocinha do Aquatop finalmente desistiu de mim.

E Lu, uma bursite no ombro = sonho de consumo ;)