José GIL. Movimento total.
O corpo e a dança. Lisboa: Relógio d`Água, 2001.
Filha, anote meu telefone.
Eu sou espírita e tenho uma coisa pra você. Foi o que disse, ipsis literis, a
senhora que emparelhou ao meu lado, em Botafogo, a caminho da volta às aulas. O
ceticismo decide que é golpe, mas a vontade acelera um pouco a cadência do
peito. Perco a mulher de vista. Na Casa da Empada um temporal se arma, e entre
Deleuze, Artaud e Pina um planeta retrógrado indica que é um tempo favorável para
releituras – foi o professor que disse, rindo encabulado por resolver acreditar
em astrologia. Duas semanas depois, Deleuze guarda os seus ecos, sua voz, e eu não
encontro estômago pra estudar.
Perto da impressora do
trabalho, depois de uma reunião cujo tema era Clarice, encontro uma barata
morta. “Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização
profunda. Não confio no que me aconteceu” – está lá, na primeira página da
Paixão segundo G.H. Se isso é coincidência demais?
E não é coincidência
também que, depois de ouvir “Space oddity” pela centésima vez, só ontem eu
tenha me dado conta de que o Major Tom morre no fim da música? Achei
tristíssimo. Chorei potes.
As pessoas morrem. E chega
o dia que faz um ano que elas morreram.
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