quarta-feira, maio 01, 2013

Um bom dia para ir ao SAARA


Ela me escreveu logo pela manhã para dizer que tinha sonhado com a gente. Não sabia se era apropriado me contar, mas “não podia deixar de contar”. A gente dançava um monte, ela disse. Foi bonito, ela disse, também. E terminou com um beijo carinhoso. Lembrei de uma festa, nem sei em que estação do ano, em que vi borrões dela dançando com você. Ela estava mais loira. Você mais gordo. Eu mais míope. Desconfiei de que pudessem estar juntos e fui chorar no banheiro.

Assoei o nariz. Mais um pacote de lenços de papel acabado. De manhã é sempre pior. No meu travesseiro havia fios do meu próprio cabelo: todos impecavelmente pretos. Fios brancos não se desprendem assim. E em caso de outono, as máscaras de oxigênio também cairão?

Respondi que tinha levado um tombo idiota na véspera, porque a pista de dança da festa estava molhada demais, e que teria sido mais seguro mesmo uma valsa. Ela não especificou a dança, mas eu queria de você uma valsa, ou uma cadência que nos desse tempo suficiente para respirar e conversar tudo o que não dissemos. Que bom que nos divertimos, pensei. Ou escrevi.

Era feriado, eu tinha pilhas para ler. Livros para ocupar. Mandei mil beijos para ela. Estendi a canga no nosso pedaço. O prólogo dizia: potência. E tinha a ver com mar. Na praia o nariz fica ainda mais escorregadio. 


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