Ela me
escreveu logo pela manhã para dizer que tinha sonhado com a gente. Não sabia se
era apropriado me contar, mas “não podia deixar de contar”. A gente dançava um
monte, ela disse. Foi bonito, ela disse, também. E terminou com um beijo
carinhoso. Lembrei de uma festa, nem sei em que estação do ano, em que vi
borrões dela dançando com você. Ela estava mais loira. Você mais gordo. Eu mais
míope. Desconfiei de que pudessem estar juntos e fui chorar no banheiro.
Assoei o
nariz. Mais um pacote de lenços de papel acabado. De manhã é sempre pior. No
meu travesseiro havia fios do meu próprio cabelo: todos impecavelmente pretos.
Fios brancos não se desprendem assim. E em caso de outono, as máscaras de
oxigênio também cairão?
Respondi
que tinha levado um tombo idiota na véspera, porque a pista de dança da festa
estava molhada demais, e que teria sido mais seguro mesmo uma valsa. Ela não
especificou a dança, mas eu queria de você uma valsa, ou uma cadência que nos
desse tempo suficiente para respirar e conversar tudo o que não dissemos. Que
bom que nos divertimos, pensei. Ou escrevi.
Era
feriado, eu tinha pilhas para ler. Livros para ocupar. Mandei mil beijos para
ela. Estendi a canga no nosso pedaço. O prólogo dizia: potência. E tinha a ver
com mar. Na praia o nariz fica ainda mais escorregadio.
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