(outros sinônimos)
Ali naquela conversa eles
planejavam fazer mesas com as próprias mãos – é o que os artistas perseguem,
não é? Deixar seu rastro. Da outra vez que estive ali havia um martelo
displicente sobre uma pilha de livros e eu comecei uma coleção de fotos dos
cantinhos, dos ramos de flores, das folhagens na cozinha, das fotos e postais.
Desta agora o desenho da porta emoldurado na parede, maços e maços na varanda,
uma briga que eu nem sei se acabou bem, um hematoma na perna direita que me faz
crer que nos atacamos.
Entre uma dose de vinho e outra,
na confusão dos copos de requeijão Aviação que nos serviram de taças, no barulho que 12 pessoas fazem juntas numa tarde, Pedro
puxa uma cadeira e me conta de suas aulas de teatro, da temporada, da tentativa
de entender o que acontece consigo depois de experimentar estar em cena, seu
corpo, sua carne – eu quase choro, porque ele sabe que aconteceu um troço meio
mágico que ele não dá conta de explicar, e sinto saudade de sentir isso também,
e devoro tomates quando ele diz que está dançando. Pedro está dançando – uma caixa
de surpresas – e tem como mestra uma ex-bailarina de Pina Bausch – e eu vejo
toda uma vida que eu poderia levar em Pinheiros, vizinha da cozinha com piso de
ladrilhos, da estante de livros que contém dois Suicídios exemplares
emparelhados, do armário amarelo. Pedro está dançando – eu esqueço de contar para ele que comprei passagens para Wuppertal – e com certeza ele vai
entender tudo o que precisa.
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