Onde está teu sinônimo no mundo?
Clarice Lispector, Um sopro de
vida
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Estou obcecada por uma música tão
linda quanto triste* e não sei o que fazer, eu disse a ela. É como se eu
perseguisse uma melancolia. Faz sentido?, eu perguntei e ela riu. Deve fazer.
Perguntei, também, se era muito
cedo pra falar dele, e é claro que era, e ela concordou. É que aquele dia, no
sofá, tudo o que ele falava eu emendava, exceto o final: comecei a chorar
naquele segundo ato (eu também); e aquela neve (eu também); e não conseguia
parar (eu também); e como é que se levanta da cadeira depois? (eu também); eu
estava bem perto do palco, peguei um pouco da neve e guardei no bolso do casaco
(ele disse, e como é que se levanta do sofá depois? E, de alguma forma, acho que ainda estou por ali, esparramada sentindo o peito dele subir e descer.)
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