domingo, maio 24, 2009

O dia em que eu (não) matei o blog

Então sexta-feira o Carlos disse que o caso do vizinho tinha sido um bom momento no meu blog. O Carlos disse que eu devia escrever mais, ao que eu argumentei que estava sofrendo de falta de assunto. Carlos fez, portanto, o comentário que trouxe à tona o tão falado vizinho, e ele não deve imaginar o que este ato inofensivo de encorajamento a uma blogueira em crise fez com a minha confusa cabeça.

Antes do Carlos, porém, eu já sofria pressões de todos os lados. Começou quando fiz o Gabriel chorar. Fazer o Gabriel chorar é muita responsabilidade, porque eu nunca vi o Gabriel na vida e de repente ele chegou aqui e se emocionou ao saber que eu transformava sussurros ao pé do ouvido, proclamados por um sujeito loiro, em suicídios. Imagina se o Gabriel descobre que há sei lá quantos anos atrás eu escrevia sobre bolinhas-de-queijo? Seria um leitor a menos, na certa.

Houve então a questão do ciúme dos amigos. Depois do texto que escrevi pro Bruno, os amigos clamaram por declarações semelhantes, coisa que nunca se repetiu. Todos se julgavam merecedores de textos e estudos sobre suas adoráveis pessoas, e eu até concordava, mas nada que eu escrevesse sobre eles parecia ser bom o suficiente, eles ainda se ressentiam do Bruno ter abocanhado os melhores parágrafos. A coisa piorou quando eu comecei a romancear conversas que eu tinha com a Carol. A Bebel entrou numa crise tão grave que há três semanas atrás eu era a principal suspeita no caso da morte (por asfixia) do peixe dela, que morava num aquário daqueles de história em quadrinho, muito vintage e assassino sem renovação de ar. Tenho certeza que a acusação foi um reflexo dessas mágoas ainda guardadas.

Até que veio o Omar, roubou um texto pro site da banda dele e indicou o blog para pessoas importantes que ao lerem os parágrafos seguintes vão achar que estão consumindo posts de uma adolescente emo.

O fato é que os sussurros ao pé do ouvido cessaram de tal forma que meu estado civil mudou de solteira pra encalhada e eu nunca mais consegui falar sobre amores ou paixões, e comecei a espalhar a notícia de que atearia fogo ao blogspot. Eu estava decidida, e ninguém me convenceria do contrário, nem o Gabriel me faria mudar de idéia, nem a perspectiva de ser lida por pessoas importantes, nem se eu ganhasse fãs no Orkut, nem por toda bolinha-de-queijo do Jobi eu continuaria escrevendo.

Até que o Carlos veio com essa. O caso do vizinho foi um ponto alto do seu blog, ele disse. Aí eu paniquei. Eu não quero matar um blog cujo ponto alto foi o vizinho. Eu não posso matar um blog cujo ponto alto foi uma história que aconteceu há sei lá quantos meses atrás. Onde foram parar todas as coisas interessantes que eu tinha pra dizer? Cade meu senso de humor que fazia rir gente desavisada que vinha parar nesse http? O que aconteceu que eu não faço mais o Gabriel chorar?

De uns tempos pra cá eu virei essa pessoa estranha que quer obedecer as leis e rebatizar um blog agonizante de Campos de Morangos. Eu me transformei em alguém que deleta seus próprios textos antes deles virarem arquivo de word, e que escuta música clássica nas tardes de segunda-feira com o tio. Eu de repente acordei e era essa pessoa que vira musa na praia numa foto em que só aparece a minha mão e se acha narcisista de te-la, a foto, na parede do quarto. De lá pra cá eu virei uma pessoa comprometida com o cartão fidelidade da livraria que divido com o melhor amigo. Virei uma pessoa que dorme com travesseiro da NASA e que discute o sexo dos anjos no Keb. Eu virei uma pessoa que come no Keb.

Eu virei uma pessoa que precisa ser convencida a não matar seu próprio blog, que precisa ser convencida de que a falta de tinta de cabelo pode ser poética e trágica, de que a falta de amores e paixões pode ser sarcástica, de que suicídios podem acontecer por causa de um livro ou do Bolero de Béjart, mas seria bom se pelo menos um fosse por causa de arrepios provocados por um beijo no pescoço. Eu virei essa pessoa que precisa ser convencida a superar o ponto alto de seu blogspot, que precisa ser convencida a inventar mais tantos conflitos imaginários quanto forem possíveis. Eu virei essa pessoa que precisa ver de novo assunto nas coisas, e que precisa acreditar no potencial de todas as piadas que são contadas e recontadas nas mesas do Baixo Gávea. Eu virei essa pessoa que cansou da análise e agora precisa ser convencida de que costumava ser boa nessas coisas de contar histórias. Eu preciso inventar novos vizinhos, assim em negrito. Eu preciso de alguém que me defenda, e de dois ou três aplausos inteirinhos pra mim, e então prometo: não mato blog nenhum.

21 comentários:

Paula disse...

Júlia! Não faça isso! Não mate o seu blog!!!! Eu raramente comento, mas sempre leio...
Adoro!

bj!

you know who disse...

eu acho que vc n deveria matar o blog, mas caso mate, escreve antes mais textos em minha homenagem!!!!

Carlos Andreazza disse...

Eu apenas gostaria de ressalvar que, apesar de altíssimo, o texto do vizinho foi um grande momento entre vários-vários outros deste formidável blogue - que, independentemente da autora, não tem como parar.

Maína Mello disse...

Júlia, please, não mate o blog! Passo por aqui com frequência para dar uma olhadinha, e sempre que tem texto novo o meu dia ganha mais poesia..
Quanto à falta de assunto, até eu que sou blogueira recente estou sofrendo do mesmo mal, mas, se te consola, o planeta Mercúrio está retrógrado, o que quer dizer que as comunicações estão meio travadas. É momento de REver, REvisar, e você já está fazendo isso, não é? então acho que se persistir na sua busca e tiver paciência para esperar até junho (quando Mercúrio volta ao movimento direto), quem sabe não será inundada por novas e brilhantes ideias?
Seus leitores aguardam ansiosamente!
bjs

FULANAS MULTIMARCAS disse...

Nossa, esse post acima foi bem elucidativo !! E depois desse fim de semana vc ainda vai ter mto que contar, nem que seja histórias como tatuis gigantes que atacam as pessoas.....

mauro pinheiro jr disse...

Então eu repito: Eu sou seu fã!

Patricia Salamonde disse...

Então tá combinado: não tem assassinato de blog. Melhor evitar 1 crime que promover genocídio. Imagina quantos leitores se matariam sem seus posts?

Beta disse...

Era para ser engraçado? Não achei a menor graça! :)

Maricota disse...

Sei lá se é verdade mesmo esse negócio de matar blog, mas acabei de me dar conta de que leio o seu há uns três anos (percebi ao ler os clássicos que você colocou nesse texto e verificar que já os tinha lido, todos).
Sei lá se é verdade mesmo esse negócio de matar blog, mas sei que ia causar um luto qualquer em mim essa morte.
Sei lá, só sei que depois que comecei a ler o seu blog passei a escerver mais. Se é verdade, não sei, mas sei que ele simplifica, inspira. Esse negócio de matar blog não tá com nada.
Beijoca

Anônimo disse...

o blog não pode parar... já teve período sabático, férias, feriado, licença médica, período de inspiração nula, falta de assunto... Mas agora chega: textos semanais são obrigatórios. Os leitores podem até não comentar, mas serão sempre leitores.
bjs
Gabriel

Julia disse...

Quando eu abri meu google reader pensei "hoje é o dia que eu preciso muito de uma atualização no strawberry fields".
Quando vi o (1) piscando em negrito pensei "preciso muito que essa atulização seja gigantesca e ocupe os meus pensamentos por um bom tempo".
Então, obrigada, né Julia?!
Salvou minha noite ;)

bruna disse...

CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAPCLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAPCLAP CLAP CLAPCLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAPCLAP CLAP CLAPCLAP CLAP CLAP (tá bom de aplausos? posso implorar.)

FULANAS MULTIMARCAS disse...

A questão "matar ou não matar o blog" gerou bastante polêmica, hein ? : )

Julieta disse...

ok ok.
desculpem-me as ameaças, eu estava querendo ibope ;)

espero que a Maína tenha razão e as idéias voltem!

obrigada, gente.

Carolina disse...

É, nada de matar o blog. Sou leitora assídua (é uma rotina: seumartin, e de lá, atalho para cá e para o tribuneiros, diariamente). Também estava ansiosa por um texto novo, todo dia que abria aqui pensava "nada novo, ela ainda deve estar viajando...". Junho está chegando, a inspiração volta.

Anônimo disse...

Três palmas inteiras para você. Parei aqui por acaso, em uma distante tarde de tédio no trabalho, e nunca mais larguei seu blog. Venho de tempos em tempos e seria uma enorme frustração perder o aconchegante desassossego dos seus textos e inquietações.
bjos, Camila.

Paula Raja disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Eu aplaudo também!

Já elogiei antes, mas faço o elogio de novo. Seu blogue é ótimo. Também cheguei meio por acaso, gostei, e continuei voltando.

Beijo,

Paula Raja (num outro post acho que você agradeceu a uma outra Paula. Eu sou a Paula que não vê novela!)

Celia disse...

Bom não vou nem comentar esse papo insandecido de matar blog, viu? Só quero dizer que morro de saudades e que o seu blog de uma forma me ajuda a estar mais perto de você. Ah! Eu também durmo com o travesseiro da NASA. :)

Rodrigo Gameiro disse...

20 comentários e ainda quer matar o blog?

Inês disse...

ainda que com muito atraso, palmas, muitas palmas!
nada de matar blog, fale mais sobre esse travesseiro da NASA!