segunda-feira, outubro 17, 2011

Agora não


And people they don’t understand
No, girlfriends they can’t understand
In spaceships, they won’t understand
And on top of this I ain’t ever gonna understand

The Strokes in Last Nite



Eu sou muito legal. Tão legal que não deveria me justificar no meu próprio blog, e se você vem aqui há muito tempo (ou há pouco tempo também) já deve ter percebido isso. Eu sou imperdível. Se eu fosse enumerar minhas top 5 qualidades, ia ser difícil pacas. Eu falo “pacas”, só isso já faz de mim uma pessoa peculiar, e pessoas peculiares costumam ser bastante engraçadas. Domingo o Marcelo disse que eu sou hilária. Até o Gustavo, que nunca me viu na vida, disse que eu sou diversão garantida. E sou mesmo. Tenho sempre uma história pra contar. E sou muito disponível pros meus amigos: encaro festa falida em play de prédios estranhos, topo ser apresentada pra gente que sua exageradamente, faço cópias de fotos impressas pra eles guardarem de lembrança, mando cds temáticos por correio pra todo mundo ficar de bom humor no trânsito na terra da garoa. Coleciono tirinhas do Snoopy pros momentos em que as pessoas precisam respirar, aviso por email sobre todas as promoções de livros que descubro, aviso por mensagem quando a praia tá esperando. Quer mais? Ajudo a comprar roupa, sempre encontro a ponta do durex, sou boa com molduras, conheço o endereço dos melhores brigadeiros, bebo cerveja ou drinks elaborados, sei um ou dois passos de dança descolados e tenho o sobrinho mais bochechudo e gostoso da cidade. E uma Polaroid. Além de imperdível eu sou também inesquecível. Ontem, no bar, um sujeito que era amigo do namorado de adolescência da minha irmã lembrou de mim. Um francês que conheci num trem a caminho de Paris, no meio de uma nevasca pré-natalina também lembrou de mim quando me encontrou, semanas atrás, na Cinelândia. A minha professora de natação me chama de Juju. Até a Anne Rice me acha lovely!

Então por que eu sou constantemente abandonada é uma resposta bastante complexa de se resolver, possivelmente um mistério sem solução. Além de ser muito legal por todos os motivos acima citados, eu estou sempre cheirosa, bem vestida e dou carona pra todo mundo no meu carro. Dirijo bem, sei fazer baliza e no porta-luvas moram trilhas sonoras confiáveis. Talvez um dos meus poucos defeitos seja não saber a regra dos porquês. Não faz o menor sentido, portanto, que toda primeira vez que eu saia com um sujeito legal ou bonitinho acabe virando também a última. Menos ainda que 45% dos meus amigos mais queridos tenha ido morar do outro lado do oceano. Quando nenhuma criatura tá a fim de dançar a madrugada toda na casa da Matriz ao som de um dj da minha inteira confiança, eu evoco um deus pra tentar decifrar o motivo. Mas o cúmulo da rejeição, dessas impensáveis, é o fato do MAM me ignorar sistematicamente. Quando uma instituição aparentemente falida decide por não te aceitar no círculo de amizades dele, é que alguma coisa está fora da ordem.

Clayton Fabio, o astrólogo, explica. Eu explico também: desde que voltei a trabalhar no centro da cidade, o MAM virou local de peregrinação. Eu almoço lá, decoro minha casa imaginária com os móveis da lojinha, vejo metades de exposições quando sobram 20 minutos da hora de almoço, passeio pelo jardim de pedras e faço planos de voltar no fim do dia pra assistir um filme na Cinemateca. Dia desses, então, porque me pareceu uma solução obvia demais, me inscrevi para ser “amiga do MAM”. Entreguei o panfleto preenchido para o sujeito da chapelaria, que sorridente garantiu que a pessoa responsável entraria em contato comigo pra que eu pudesse efetuar o pagamento da anuidade. Semanas se passaram até que tomei coragem de ir lá perguntar o que estava acontecendo. Preenchi novamente o formulário, entreguei ao mesmo chapeleiro sorridente, e nada. Nenhum contato. Nenhum telefonema. Nenhum email, e eu tenho vasculhado o SPAM diariamente. O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro não quer minha amizade. Faz menos sentido que qualquer obra contemporânea concorrendo ao Prêmio Pipa.

Marcelo acha que eu sou a primeira cidadã a me candidatar a tal empreitada, e que Luiz Camilo Osório e cia estão reunidos em cúpula, pensando o que fazer e/ou elaborando uma carteirinha cujo design ainda não sabem se será assinado pelo Cildo Meirelles ou pelo Tunga.

Clayton Fabio, o astrólogo, é mais certeiro: a minha casa afetiva está bem vazia. Isso não explica, porém, os abandonos e a rejeição. Ele não disse que a casa estava sendo evacuada. Ele não disse que eu estava perdendo gente, ele só confirmou que o marasmo nas relações deve durar ainda um tempo. Ele chegou mesmo a empregar a expressão “um longo e tenebroso inverno.” Eu não sei como pode ficar mais tenebroso que o atual quadro, que já está abstrato o bastante.

Sem saber o que fazer, deixei escapar uma lágrima quando Clayton Fabio, o astrólogo, sentenciou minha solidão. Ele sacou que o assunto era espinhento e foi logo passando pro próximo, que tinha a ver com o fato de fazer exercícios. Clayton Fabio, o astrólogo, foi convicto ao afirmar que eu não podia abandonar a natação. Ele disse que preciso de muito alongamento muscular. Mas pra mim é óbvio demais: a abandonada sou eu, e portanto só resta me agarrar com unhas e dentes a tudo o que eu puder reter, especialmente se tal objeto produzir endorfinas. Clayton Fabio, o astrólogo, viu a natação como minha última boia de salvação.

Por alguma razão que, desconfio, pode ter a ver com a posição dos astros no céu, o Tiago me deu um dvd do Peanuts de presente semana passada, e a Eugênia deixou um monte de livros na minha mesa de trabalho, frisando que todos eram para “uso pessoal”, logo a Eugênia, que também ri comigo e me acha engraçada...

O que mais eu posso fazer pra te convencer? Eu sou muito legal. Juro. 

12 comentários:

Bel disse...

Eu ri, eu me identifiquei, e me senti culpada pela Matriz, apesar de ter chamado para se juntar a mim em churrasco duvidoso. Juro que não sei o que acontece, mas quando descobrir a resposta para mim, juro também que você será a primeira pessoa com quem eu compartilharei! Na ânsia por resposta me lembrei dessa música, karaoke dos solitários (não, não é a música Lonely do Akon):

http://www.youtube.com/watch?v=QYEC4TZsy-Y

beijo,

Bel- lonely

bruna disse...

:-(
Eu realmente não entendo o porquê. Juro.

Julieta disse...

Nem o Julian Casablancas entende!!!

(mas era pra rir, gente, e não pra chorar!)

Mari disse...

Também não entendo. Nunca vi alguém encontrar a ponta do durex como você. Juro.

Chérie disse...

Eu tb não entendo. Mas tô começando a achar que a culpa é do Clayton Fabio.

Anônimo disse...

Eu também não entendo....mas discordo que vc faz baliza muito bem. Vide seu finado carro.

Eugenia Ribas Vieira disse...

minha querida
o inferno são os outros, você, maravilhosa, sempre. deixa a casa ficar vazia mesmo, tão logo aparece um alguém tão legal como você (é que você é tão legal que é difícil preencher...)

Carlos Andreazza disse...

E, quando afinal voltas, escreves ainda melhor!

Anônimo disse...

Você consegue encontrar a ponta do durex? Taí uma coisa impressionante.

Garanto que qualquer hora dessas o pessoal do MAM te liga, desesperado, pedindo desculpas, "mas é que a gente tá desesperado tentando encontrar a ponta do durex pra remendar uma escultura aqui".

charlesphj disse...

Bonito, engraçado e agridoce.

doce como a xícara de açúcar que lhe peço dia desses, vizinha de casa vazia, esquina com a solidão. puxo assunto sob o capacho, um ato de quem pede pra entrar.

Texto bonitinho, e isso é um elogio enorme, mesmo! Imprimo e prendo com durex pra sobreviver ao caos do meu cubiculo. Natural, perco a ponta do rolo em seguida.

Digo: abra as janelas, bote as plantas ao sol, no parapeito, e escreva mais. Aceno da rua, da tal esquina.

eu volto sempre.

Julieta disse...

Obrigada, charlesphj. Seu comentário é tão bonito que merecia ficar mais visível. Aqui em casa não bate muito sol e eu não tenho plantas. Pra compensar, procuro deixar sempre os vidros do carro abertos.

um beijo e até logo.

Brahmastra - a bomba verbal disse...

Clayton é um excelente astrólogo, faço meu mapa com ele. Mas temos o livre arbítrio. Boa sorte!