domingo, outubro 02, 2011

O dia em que tomei champanhe com Adriana Lunardi


Sempre tive medo de conhecer autores e dividir com eles frases, mesmo que cumprimentos educados, bom dia ou boa noite. Achava que ter contato com um deles fosse demais pra um leitor. Que não se podiam misturar as ficções, que talvez fosse até proibido. Tinha medo que os livros como eu os conhecia morressem no momento em que descobrisse as vozes, tamanhos e gestos das pessoas que os escreveram.

Consta que meu primeiro contato com Adriana Lunardi se deu em 2008, em Paraty, portanto 3 anos antes do dia em que tomei champanhe com ela. É o que atesta a data abaixo da sua assinatura, um A em forma de estrela a tinta fraca de uma caneta preta que naquela tarde marcou o meu exemplar de Vésperas. No dia em que tomei champanhe com Adriana Lunardi, ela me perguntou se foi simpática comigo aquele dia, e eu não soube dizer. Pensei em forjar alguma lembrança, mas a verdade é que eu jamais poderia mentir para Adriana Lunardi.

Acontece, então, que por uma dessas coisas que desabam na gente, passei a frequentar a casa de Adriana Lunardi uma vez por semana. E diante dela, um mágica ainda maior se operou.

Até o dia em que tomei champanhe com Adriana Lunardi, não entendia como ela podia ser a mesma pessoa de 3 anos antes, e tampouco achava possível que aquela moça magra de mãos pequenas e pousadas sobre um livro de Virginia Woolf fosse a mesma escritora que me assombrava com palavras e frases que só poderiam vir de alguém que não ela. Aquela moça de vestido, e cujas prateleiras amarelas carregavam uma biblioteca onde era possível habitar, aquela moça de voz mansa, de cadência de outono. Eu achava que Adriana Lunardi era duas, que não dava pra existir aquela Adriana que esquentava pães-de-queijo e servia champanhe rosé em taças de vidro dentro da mesma Adriana que inventava aquelas palavras e frases. Que organizar guardanapos era mundano demais pra quem fazia toda aquela literatura. E mesmo comprar flores.

O dia em que tomei champanhe com Adriana Lunardi foi milagroso porque juntei as duas coisas, porque vi como Adriana Lunardi me olhava com olhinhos brilhando, e como esse brilho abraçava as coisas à sua volta. Eu, que achava não ser possível que Adriana Lunardi desse conta dessa vida tão rotineira de que todos nós nos ocupamos, fiquei maravilhada de entender que ela sim, cuidava do seu mundo e inventava outros tantos. 

O dia em que tomei champanhe com Adriana Lunardi ficou marcado no calendário, com caneta especial e estrela no canto da página.


2 comentários:

Jeanne Duval disse...

E eu perdi este momento...

Anônimo disse...

Que texto mais delicado e sensível! Eu ia amar se eu fosse a Adriana Lunardi...