O processo de digestão das coisas boas é sempre mais complexo que o das coisas ruins. De um jeito ou de outro, com mais ou menos esforço, mais ou menos suor, mais ou menos palavrões, as coisas ruins a gente deixa por aí, porque acabam saindo de alguma forma: no mar, em folhas de caderno, em sapatilhas de ballet, em 3 atos de uma tragédia ou em 4 taças de margarita.
Felicidade, geralmente, só sei no dia seguinte, quando fico pairando em vez de andar.
Felicidade é mais caro, me dá muita solidão e um problema que ainda não sei enfrentar. Fico uma tarde inteira sozinha na praia, tentando guardar as sensações e barulhinhos que o corpo faz, numa tentativa de reter tudo o quanto for possível, segurar com os dentes e as mãos, porque não quero esquecer, não quero perder nenhum detalhe, quero guardar.
Bate um mutismo que parece irreversível. A desconfiança de que ninguém entende. Nenhuma música é possível, e nem mais nada. Felicidade se apropria das entranhas, é latifúndio do corpo. Eu só queria que tivesse um botão que fizesse parar de chorar e então ia começar a te dizer tudo o que eu queria.
(esses pequeninos parágrafos estão sendo escritos há dias. Ficaram empacados pelo mutismo que a felicidade causa. Hoje o Marcelo ganhou o prêmio de melhor diretor pelo seu primeiro filme, entitulado "Testemunha 4", que foi exibido na Semana dos Realizadores. Tem repescagem dia 5/11 no Instituto Moreira Salles, RJ)
Um comentário:
: ))))))
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