quinta-feira, dezembro 07, 2006

Transtorno obssessivo

(sobre yoga e calor)

A função do dia foi fazer o curativo da tatuagem da Charlotte, que a propósito é a minha “par” na confecção mais quente do mundo. A Charlotte parece ser uma das pessoas mais calmas do planeta, já até combinamos de fazer yoga juntas. Foi a Charlotte que me explicou, finalmente, o que é astanga mysore. Astanga Mysore, até quinta-feira, era apenas uma categoria curiosa de ioga para mim. A tabela de horários do Nirvana contém duas observações sobre esta aula: o aluno poderá chegar até 30 minutos do término da prática, que dura o triplo do tempo. A coisa ficou ainda mais estranha quando descobri a segunda obs: de acordo com a tradição, a astanga mysore não será praticada em período de lua cheia. Segundo a Charlotte, a tal da aula de astanga mysore é uma aula “livre” onde o aluno (a essa altura eu diria que o aluno atingiu o status de iógui-jr) pratica a sua própria prática independentemente da turma. Nenhum tipo de astanga deve ser feito ou melhor, praticado em período de lua cheia porque o exercício de iôga astanga já é muito intenso, bem como os períodos de lua cheia, portanto seria um exagero fazer os dois juntos. Ao que parece, yoga também é astrologia (antigamente yoga se escrevia com y e se dizia ióga, como eu não sei mais quem está certo eu escrevo e falo de várias formas).

Um dia desses eu estava esperando pelo começo da minha iyengar e uma aula de mysore ia começar. Notei que o professor estava 10 minutos atrasado e concluí que essa aula só pode ser uma zona: você chega uma hora atrasado e faz o que quer. É a graduação da yoga.

Iyengar, por sua vez, consiste numa prática muito paradona onde as posturas são exploradas minuciosa e demoradamente. É bastante recomendada para nós possuidores de colunas estragadas, bem como iniciantes da prática, pois que nela você aprende a usar seu corpo de forma a não se machucar e a atingir um alongamento intenso. Iyengar é chato pra cacete e dói que nem um cão, mas creio ser a forma mais rápida de aprender anatomia, inclusive a sua própria. Dia desses na aula de Iyengar básico o professor começou a dizer o quanto era importante conhecermos os nossos limites e nos ajustarmos a eles (e creio que as explicações e filosofices dos mestres ultrapassem o caráter didático em alguns casos podendo ser aplicados metaforicamente em diversas situações – olha a yoga virando psicologia aplicada). Foi quando ele deu um exemplo: você olha pro lado e vê a pessoa com a perna lá na orelha e fica triste porque a sua nem chega perto. Mas aí você pensa naquela macarronada que só você sabe fazer.

Foi quando concluí que a iyengar é quase uma terapia em grupo: você divide suas dores com o professor, que tem tempo de corrigir todo mundo e ainda busca apoio nos ensinamentos dele.

Isso tudo eu pensei no mesmo dia em que eu vi um sujeito vendendo coelhos no Saara. Eram tão pequeninos que cabiam na palma de sua mão. Eu pensei que era muita sacanagem o cara vender coelhos naquela confusão, que se nós humanos (com coluna boa ou não) já sofremos naquele ambiente imagina um coelho bebê.

Foi nesse mesmo dia que eu concluí que a sala da costura onde as máquinas trabalham é muito mais fresquinha do que a sala onde eu passo a maior parte do tempo. Além disso concluí que cinco técnicos de ar-condicionado foram incapazes de consertar o nosso. Por que mesmo eles são chamados de técnicos? Não sei. Só sei que foi assim.

3 comentários:

Anônimo disse...

Hahahaha. Psicologia aplicada, gostei!
Queria fazer uma iyengar para experimentar.

Anônimo disse...

Continuo sentindo mto calor qdo leio esses seus textos sobre o calor!!!

Velma Kelly disse...

quem é esa charlotte, hein??? não é a aranha, eu espero!!!