quinta-feira, julho 23, 2009

Carta a B.

Ma chérie,

Hoje o dia parecia que ia dar jeito, que alguma coisa ia ser boa, que alguma coisa ia ser minha. Por algumas razões nada obscuras e completamente óbvias, a quinta-feira terminou com o gosto amargo de um temaki completamente vomitável. Mas você sabe, o dia de passar mal foi sábado e é pra frente que se anda.

Eu comecei a desconfiar de todo o meu futuro quando me vi dando voltas pelo Shopping da Gávea procurando uma loja que com certeza deveria estar no terceiro piso. Eu rodei tanto que não deu tempo de ir na manicure nem de comer folhado na Chez Anne. Pra piorar, a liquidação da Osklen estava péssimae tudo continuava custando mais que o compreensível. Mas havia uma luz no fim do túnel porque a música que tocava no Shopping era "Just Another Day", do Jon Secada, o que foi o primeiro aspecto positivo do meu dia e eu até cantarolei. Você sabe, "Just Another Day" é uma das top 5 músicas pra ouvir so-zi-nha no carro, cantando aos berros, fazendo todo mundo dos outros carros se divertir um pouco ao pararem no sinal.

Poucos minutos depois, já a léguas de distância e atrasada, percebi que todos os bilhetes de metrô haviam sumido, que eu só tinha cinco reais na carteira e que eu teria que me segurar naquelas barras dentro dos trens correndo sério risco de me contaminar com gripe suína. Dez minutos depois eu já estava tossindo e panicada, sem nem mesmo ter idéia se tosse consta dos sintomas. Pouco antes de chegar ao trabalho o meu caderno foi cruelmente tragado por um bueiro imundo da Rua dos Andradas. Eu ando tão cheia de idéias e planos que desenvolvi uma técnica de escrever andando pra anotar qualquer coisa que possa virar: um catálogo, fotos de moda, textos, twitters, outro emprego, tese de mestrado. Exato, ando com desejos acadêmicos. Mas lá se foi o caderno, porque me distraí com os pastéis e ele despencou tragicamente.

Então as quarenta e três idéias do dia foram descartadas, não apenas porque o caderno ficou irremediavelmente fora de alcance, mas também porque essas coisas acontecem, né? Enfim. Quando pela janela do atelier começou a entrar o som de uma música do Coldplay eu achei que tudo poderia ficar agradável novamente. Então eu me dei conta de que a calça que eu vestia estava completamente tomada por bolinhas e fiozinhos puxados no quadril direito. Era o meu fim decretado, visto que eu comprara a calça exatamente vinte e quatro horas antes.

A minha última salvação encontrava-se no mesmo bairro em que a primeira, e lá fui eu correndo pra aula de dança, me esticar e rodopiar e terminar a aula carimbando o chão com a mancha de suor das minhas costas. E aí, ma chérie, uma coisa muito dolorosa aconteceu: a minha hérnia voltou e eu senti o lado direito todo da lombar doer como se alguém estivesse espetando agulhas num boneco de vodu que tivesse a minha cara. Era o meu fim, de novo. Rezei. Comi um temaki. Cheguei em casa, matei o porteiro três vezes, vomitei o temaki e aí você aconteceu: se você estivesse aqui a gente iria tomar uma taça de vinho qualquer safra acompanhado de pizza do supermercado. A gente ia delirar com a última campanha do perfume da Jil Sander, porque se você estivesse aqui eu saberia como é a última campanha do perfume da Jil Sander. Se você estivesse aqui ia consertar toda essa chatice de dia cheio de vírus, algas e tecidos de quinta.

Mas você não está, portanto eu coloco outro dramin pra dentro, fico absolutamente desorientada e caio na cama, não sem antes colocar um montinho de travesseiros sob as pernas, hérnia de disco, sabe como é.

No sonho a gente gargalha na estação Saint Sulpice e volta pra casa de manhã cantando “but remember this every other kiss that you ever give...” a plenos pulmões e fazendo cara de drama. No sonho a gente ainda é vizinha, tem praia em Paris, a Carol nunca fura e a ponte aérea funciona tipo a da novela das oito, toda hora os amigos vão e voltam e nunca ninguém chega a querer se matar de saudade.

Se você estivesse aqui, ma chérie, você ia saber o jeito certo de consertar tudo. Porque você não está, fico crente e canto Jon Secada como um mantra: whyyyyy can’t you stay foreeeeveeeeeeeer Just give me a reason, giiiiiiiive me a reason cause Iiiiiiii Iiiiiiiiiiii don’t wanna say it, I don’t wanna find another way...

Como se traduz isso tudo pro francês? Como se mede saudade?

Me diz, minha querida: co-mo-faz?

Bisous,


(ps. A internet não funcionou quando eu queria ter postado esse post...)

4 comentários:

b. disse...

jules, eu a-m-o essa musica, qdo toca no supermercado eu piro!!!
vem p ca?? a gente pode acampar na expo da vionnet... que tal????

Beta disse...

Julinha! me fez lembrar o auge dos meus 13 anos e o show do Jon Secada no Metroplitan. Sim, eu fui! hahahahahahha
Bjs

FULANAS MULTIMARCAS disse...

Será que a gente tem um karma de ter melhores amigas morando longe ???

Inês disse...

júlia! vc tb tem hérnia!! vc tb ficou possessa qdo o médico te disse que é incomum nessa idade mas que ele não sabe te dizer pq vc tem e todos os seus amigos não?
hérnia deveria ter grupo de apoio...