domingo, julho 19, 2009

Estação Uruguaiana

(ou: Quando porteiros e SAARA se encontram)

Ainda está lá na Estação Cinelândia a lojinha de sapatos cheias de scarpins de saltos incrivelmente altos e finos. Ainda está lá na Estaçaõ Carioca toda aquela gente que parece que vai te esmagar no metrô, que medo. Eu ainda confundo Rua da Alfândega com a Senhor dos Passos. A farmácia da esquina ficou completamente destruída. Os pastéis enormes e lindos ainda não me convenceram.

Respiro aliviada ao ver que lupas ainda são vendidas junto a bolsas plásticas de água quente (R$5,00 cada), porque isso parece fazer mais sentido que muita coisa, a maioria delas, na verdade (imagina comprar uma lupa sem uma bolsa de água quente ou vice-versa?). Descubro que os corantes Guarany não produzem mais a tinta bege, e portanto a vida no atelier frente ao fogão de tingimento complicou-se: azul, vermelho, amarelo e marrom nunca dão um bege tão bom quanto o finado. O cáqui que inventaram para substituir também não dá certo. O almoço no restaurante a quilo continua dando 15 reais. O café agora é na Pavelka, muito melhor que a Colombo. Homens de cabelo ralo e barrigas proeminentes continuam andando com pentes de dentes finos nos bolsos de camisas de algodão. A Dona Laura, essa também não mudou, e porque ela continua sendo uma pedra no caminho, e porque ela continua me dando bom dia com uma cara de vômito e um "opa" ("opa"?!), e porque ela ostenta um bigode medonho, tornou-se o meu novo porteiro da noite.

Eu continuo preferindo seda pura, e torcendo por um frio pra usar veludo, mas não tem jeito, no SAARA faz calor até nos dias de temperatura mais baixa, já dá pra sentir da escada rolante do metrô. Na volta pra casa, eu continuo errando a saída e quando vejo estou em frente ao Odeon, pensando em letreiros e filmes.

Em meio a todo o déjà-vu (não me venha sugerir psicanálise), a grande conquista do dia, quiçá do ano, foi o meu novo amor, um desses que aparecem novinho em folha quando menos se espera. Pelo interfone ele me avisou que o reboque estava chegando no meio da tarde de domingo. Desci as escadas num galope com a blusa de ontem, a saia que tinha ficado sobre a cadeira, os cabelos descontrolados, pantufa e meia-calça e salvei meu carro de mais um reboque. E então assim, ofegante e certamente reprovada por qualquer consultora de moda no quesito modelito, me apaixonei perdidamente pelo porteiro da tarde, meu novo herói.

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