* "You could make me cry if you don't know. Can't remember what I was thinking of you might be spoiling me too much, love, you're gonna make me lonesome when you go." Bob Dylan
Ele desembrulha todas essas histórias que eu não sei e numa gargalhada me espatifo no chão como se fosse azulejo, e ficam todos os pedaços sobre o tapete quentinho dessa casa que eu criei. Ele prepara a lareira, a sopa e a gente nunca pára de falar quando têm mantas sobre os joelhos. Eu folheio a pilha de revistas, ele beija meu umbigo e esquecemos até de beber conhaque e todos os licores coloridos. Ele me abraça do tamanho certo, e eu derreto pra todos as quinas das mãos, das pernas e dos ouvidos dele. E da boca, e é tão fácil que ele esquece de dormir, e eu também.
Desde que ele não está mais aqui, dou bom dia pras paredes e durmo de meias, esquento café pra um e invento esse final tristíssimo: a casa morre afogada de tanta chuva, me tranco no banheiro a estrangular flores, fico sem mais nem porquê à tarde. Investigo no espelho do closet e constato que sumiu da minha bochecha direita a marca tão efêmera quanto essa história de paixão desenfreada: uma mordida de mosquito.
quinta-feira, julho 30, 2009
terça-feira, julho 28, 2009
O dia em que o Merce Cunningham morreu
O dia em que o Merce Cunningham morreu foi o mesmo em que qualquer possibilidade de matar o blog se dissipou. Com tanta gente morrendo eu não teria coragem. O dia em que o Merce Cunnigham morreu foi o mesmo, também, em que eu acendi uma vela pro Rodrigo Pederneiras, porque depois de Isadora Duncan, Marta Graham, Béjart, Pina Bausch e Merce Cunningham, sei lá. Na (minha) linha de sucessão o Pederneiras é o próximo. O dia em que o Merce Cunningham morreu foi, ainda, o mesmo em que eu resolvi odiar o Word que o queria transformar a todo custo em Mercê Cunningham. E, pra completar, o dia em que o Merce Cunningham morreu caiu num período péssimo, porque de repente to cheia de assunto e alguns textos esperando na fila.
Mas como tudo o que é ruim pode piorar, o dia em que o Merce Cunningham morreu foi quando o Marcelo riu da minha neurose de que o Pederneiras pode morrer (e eu não contei pra ele que telefonei pros hospitais de Belo Horizonte pra saber se, por acaso, o Pederneiras não estava internado em algum deles), e riu porque eu disse que neurose é o preço da ponte aérea, porque é claro que o Grupo Corpo estreia em São Paulo em duas semanas, afinal o Municipal está em obras.
Honestamente? O dia em que o Merce Cunningham morreu sucks.
Mas como tudo o que é ruim pode piorar, o dia em que o Merce Cunningham morreu foi quando o Marcelo riu da minha neurose de que o Pederneiras pode morrer (e eu não contei pra ele que telefonei pros hospitais de Belo Horizonte pra saber se, por acaso, o Pederneiras não estava internado em algum deles), e riu porque eu disse que neurose é o preço da ponte aérea, porque é claro que o Grupo Corpo estreia em São Paulo em duas semanas, afinal o Municipal está em obras.
Honestamente? O dia em que o Merce Cunningham morreu sucks.
segunda-feira, julho 27, 2009
A crise nos campos de morangos
Então eu descobri que sou capaz de me emocionar tudo de novo vendo o mesmo musical infantil que já me havia feito chorar ano passado; e que estou com essa mania de largar o Rodrigo sozinho por aí, seja no cinema ou numa festa; e que a minha tinta de cabelo volta e meia realmente some e só encontro depois de quatro ou cinco farmácias; e que até agora não há nada de errado com a barriga, nem pedra na vesícula, nem nada no fígado, nem nada no baço e nem nada em nenhuma outra cavidade abdominal, o que é bom, e por isso sigo sem beber, o que não é tão bom assim, e isso pode significar uma mudança drástica na minha vida social.
Mas o pior de tudo, o que é verdadeiramente problemático, é que eu descobri que odeio, não é exagero, odeio, ODEIO (convence mais em capslock?) o nome desse blog. Exato, eu não sei onde eu estava com a cabeça quando resolvi batizar esse blosgpot de “Strawberry Fields”. Tem coisa mais cafona? Deve ter sido um surto adolescente. E eu nem amo tanto assim essa música. E agora, por uma dessas fatalidades fatídicas, estou presa a esse diabo desse título pra sempre porque não consigo pensar em outra solução, e mesmo que conseguisse, ia acabar confundindo a cabeça dos leitores e consultoria de marketing nenhuma aprovaria esse plano de mudar uma marca já consolidada.
E pra piorar, não sei nem mesmo mexer no layout deste blog. Se eu conseguir, prometo, dispenso as estratégias de qualquer empresa de branding, volto a ter cabelo preto (nunca sai de moda e a tinta está sempre lá), tomo um porre homérico que me fará passar mal por cinco dias seguidos, apago esse letreiro brega e fico, então, feliz e desbatizada.
:: Let me take you down, cause I'm going to strawberry fields. Nothing is real.
Mas o pior de tudo, o que é verdadeiramente problemático, é que eu descobri que odeio, não é exagero, odeio, ODEIO (convence mais em capslock?) o nome desse blog. Exato, eu não sei onde eu estava com a cabeça quando resolvi batizar esse blosgpot de “Strawberry Fields”. Tem coisa mais cafona? Deve ter sido um surto adolescente. E eu nem amo tanto assim essa música. E agora, por uma dessas fatalidades fatídicas, estou presa a esse diabo desse título pra sempre porque não consigo pensar em outra solução, e mesmo que conseguisse, ia acabar confundindo a cabeça dos leitores e consultoria de marketing nenhuma aprovaria esse plano de mudar uma marca já consolidada.
E pra piorar, não sei nem mesmo mexer no layout deste blog. Se eu conseguir, prometo, dispenso as estratégias de qualquer empresa de branding, volto a ter cabelo preto (nunca sai de moda e a tinta está sempre lá), tomo um porre homérico que me fará passar mal por cinco dias seguidos, apago esse letreiro brega e fico, então, feliz e desbatizada.
:: Let me take you down, cause I'm going to strawberry fields. Nothing is real.
sábado, julho 25, 2009
"Estrago a pessoa amada em 3 dias"
(escrito numa camiseta em Ipanema)
Era dilúvio quando a frase do título me pegou e desde então eu já escrevi milhares de coisas sobre o assunto (na minha cabeça). Cheguei num nível de obsessão com a frase que fiz um top 5 imaginário de pessoas amadas que eu estragaria. No fim eu sempre concluí que não estragaria ninguém. Eu acho.
No fim (de novo) o melhor que consigo pensar é que é deveras mais eficaz estragar logo a pessoa amada, porque possível e provavelmente ela não te ama de volta. E até onde eu sei, mãe de santo alguma vai convencê-la do contrário. Então pense: a pessoa amada vem, nada dá certo, o relacionamento gera sofrimento pra uma das partes e está feita a cagada.
Melhor estragar antes. Em 3 dias e você descobre que a pessoa amada é uó e logo desfaz-se o sofrimento.
Era dilúvio quando a frase do título me pegou e desde então eu já escrevi milhares de coisas sobre o assunto (na minha cabeça). Cheguei num nível de obsessão com a frase que fiz um top 5 imaginário de pessoas amadas que eu estragaria. No fim eu sempre concluí que não estragaria ninguém. Eu acho.
No fim (de novo) o melhor que consigo pensar é que é deveras mais eficaz estragar logo a pessoa amada, porque possível e provavelmente ela não te ama de volta. E até onde eu sei, mãe de santo alguma vai convencê-la do contrário. Então pense: a pessoa amada vem, nada dá certo, o relacionamento gera sofrimento pra uma das partes e está feita a cagada.
Melhor estragar antes. Em 3 dias e você descobre que a pessoa amada é uó e logo desfaz-se o sofrimento.
quinta-feira, julho 23, 2009
Carta a B.
Ma chérie,
Hoje o dia parecia que ia dar jeito, que alguma coisa ia ser boa, que alguma coisa ia ser minha. Por algumas razões nada obscuras e completamente óbvias, a quinta-feira terminou com o gosto amargo de um temaki completamente vomitável. Mas você sabe, o dia de passar mal foi sábado e é pra frente que se anda.
Eu comecei a desconfiar de todo o meu futuro quando me vi dando voltas pelo Shopping da Gávea procurando uma loja que com certeza deveria estar no terceiro piso. Eu rodei tanto que não deu tempo de ir na manicure nem de comer folhado na Chez Anne. Pra piorar, a liquidação da Osklen estava péssimae tudo continuava custando mais que o compreensível. Mas havia uma luz no fim do túnel porque a música que tocava no Shopping era "Just Another Day", do Jon Secada, o que foi o primeiro aspecto positivo do meu dia e eu até cantarolei. Você sabe, "Just Another Day" é uma das top 5 músicas pra ouvir so-zi-nha no carro, cantando aos berros, fazendo todo mundo dos outros carros se divertir um pouco ao pararem no sinal.
Poucos minutos depois, já a léguas de distância e atrasada, percebi que todos os bilhetes de metrô haviam sumido, que eu só tinha cinco reais na carteira e que eu teria que me segurar naquelas barras dentro dos trens correndo sério risco de me contaminar com gripe suína. Dez minutos depois eu já estava tossindo e panicada, sem nem mesmo ter idéia se tosse consta dos sintomas. Pouco antes de chegar ao trabalho o meu caderno foi cruelmente tragado por um bueiro imundo da Rua dos Andradas. Eu ando tão cheia de idéias e planos que desenvolvi uma técnica de escrever andando pra anotar qualquer coisa que possa virar: um catálogo, fotos de moda, textos, twitters, outro emprego, tese de mestrado. Exato, ando com desejos acadêmicos. Mas lá se foi o caderno, porque me distraí com os pastéis e ele despencou tragicamente.
Então as quarenta e três idéias do dia foram descartadas, não apenas porque o caderno ficou irremediavelmente fora de alcance, mas também porque essas coisas acontecem, né? Enfim. Quando pela janela do atelier começou a entrar o som de uma música do Coldplay eu achei que tudo poderia ficar agradável novamente. Então eu me dei conta de que a calça que eu vestia estava completamente tomada por bolinhas e fiozinhos puxados no quadril direito. Era o meu fim decretado, visto que eu comprara a calça exatamente vinte e quatro horas antes.
A minha última salvação encontrava-se no mesmo bairro em que a primeira, e lá fui eu correndo pra aula de dança, me esticar e rodopiar e terminar a aula carimbando o chão com a mancha de suor das minhas costas. E aí, ma chérie, uma coisa muito dolorosa aconteceu: a minha hérnia voltou e eu senti o lado direito todo da lombar doer como se alguém estivesse espetando agulhas num boneco de vodu que tivesse a minha cara. Era o meu fim, de novo. Rezei. Comi um temaki. Cheguei em casa, matei o porteiro três vezes, vomitei o temaki e aí você aconteceu: se você estivesse aqui a gente iria tomar uma taça de vinho qualquer safra acompanhado de pizza do supermercado. A gente ia delirar com a última campanha do perfume da Jil Sander, porque se você estivesse aqui eu saberia como é a última campanha do perfume da Jil Sander. Se você estivesse aqui ia consertar toda essa chatice de dia cheio de vírus, algas e tecidos de quinta.
Mas você não está, portanto eu coloco outro dramin pra dentro, fico absolutamente desorientada e caio na cama, não sem antes colocar um montinho de travesseiros sob as pernas, hérnia de disco, sabe como é.
No sonho a gente gargalha na estação Saint Sulpice e volta pra casa de manhã cantando “but remember this every other kiss that you ever give...” a plenos pulmões e fazendo cara de drama. No sonho a gente ainda é vizinha, tem praia em Paris, a Carol nunca fura e a ponte aérea funciona tipo a da novela das oito, toda hora os amigos vão e voltam e nunca ninguém chega a querer se matar de saudade.
Se você estivesse aqui, ma chérie, você ia saber o jeito certo de consertar tudo. Porque você não está, fico crente e canto Jon Secada como um mantra: whyyyyy can’t you stay foreeeeveeeeeeeer Just give me a reason, giiiiiiiive me a reason cause Iiiiiiii Iiiiiiiiiiii don’t wanna say it, I don’t wanna find another way...
Como se traduz isso tudo pro francês? Como se mede saudade?
Me diz, minha querida: co-mo-faz?
Bisous,
(ps. A internet não funcionou quando eu queria ter postado esse post...)
Hoje o dia parecia que ia dar jeito, que alguma coisa ia ser boa, que alguma coisa ia ser minha. Por algumas razões nada obscuras e completamente óbvias, a quinta-feira terminou com o gosto amargo de um temaki completamente vomitável. Mas você sabe, o dia de passar mal foi sábado e é pra frente que se anda.
Eu comecei a desconfiar de todo o meu futuro quando me vi dando voltas pelo Shopping da Gávea procurando uma loja que com certeza deveria estar no terceiro piso. Eu rodei tanto que não deu tempo de ir na manicure nem de comer folhado na Chez Anne. Pra piorar, a liquidação da Osklen estava péssimae tudo continuava custando mais que o compreensível. Mas havia uma luz no fim do túnel porque a música que tocava no Shopping era "Just Another Day", do Jon Secada, o que foi o primeiro aspecto positivo do meu dia e eu até cantarolei. Você sabe, "Just Another Day" é uma das top 5 músicas pra ouvir so-zi-nha no carro, cantando aos berros, fazendo todo mundo dos outros carros se divertir um pouco ao pararem no sinal.
Poucos minutos depois, já a léguas de distância e atrasada, percebi que todos os bilhetes de metrô haviam sumido, que eu só tinha cinco reais na carteira e que eu teria que me segurar naquelas barras dentro dos trens correndo sério risco de me contaminar com gripe suína. Dez minutos depois eu já estava tossindo e panicada, sem nem mesmo ter idéia se tosse consta dos sintomas. Pouco antes de chegar ao trabalho o meu caderno foi cruelmente tragado por um bueiro imundo da Rua dos Andradas. Eu ando tão cheia de idéias e planos que desenvolvi uma técnica de escrever andando pra anotar qualquer coisa que possa virar: um catálogo, fotos de moda, textos, twitters, outro emprego, tese de mestrado. Exato, ando com desejos acadêmicos. Mas lá se foi o caderno, porque me distraí com os pastéis e ele despencou tragicamente.
Então as quarenta e três idéias do dia foram descartadas, não apenas porque o caderno ficou irremediavelmente fora de alcance, mas também porque essas coisas acontecem, né? Enfim. Quando pela janela do atelier começou a entrar o som de uma música do Coldplay eu achei que tudo poderia ficar agradável novamente. Então eu me dei conta de que a calça que eu vestia estava completamente tomada por bolinhas e fiozinhos puxados no quadril direito. Era o meu fim decretado, visto que eu comprara a calça exatamente vinte e quatro horas antes.
A minha última salvação encontrava-se no mesmo bairro em que a primeira, e lá fui eu correndo pra aula de dança, me esticar e rodopiar e terminar a aula carimbando o chão com a mancha de suor das minhas costas. E aí, ma chérie, uma coisa muito dolorosa aconteceu: a minha hérnia voltou e eu senti o lado direito todo da lombar doer como se alguém estivesse espetando agulhas num boneco de vodu que tivesse a minha cara. Era o meu fim, de novo. Rezei. Comi um temaki. Cheguei em casa, matei o porteiro três vezes, vomitei o temaki e aí você aconteceu: se você estivesse aqui a gente iria tomar uma taça de vinho qualquer safra acompanhado de pizza do supermercado. A gente ia delirar com a última campanha do perfume da Jil Sander, porque se você estivesse aqui eu saberia como é a última campanha do perfume da Jil Sander. Se você estivesse aqui ia consertar toda essa chatice de dia cheio de vírus, algas e tecidos de quinta.
Mas você não está, portanto eu coloco outro dramin pra dentro, fico absolutamente desorientada e caio na cama, não sem antes colocar um montinho de travesseiros sob as pernas, hérnia de disco, sabe como é.
No sonho a gente gargalha na estação Saint Sulpice e volta pra casa de manhã cantando “but remember this every other kiss that you ever give...” a plenos pulmões e fazendo cara de drama. No sonho a gente ainda é vizinha, tem praia em Paris, a Carol nunca fura e a ponte aérea funciona tipo a da novela das oito, toda hora os amigos vão e voltam e nunca ninguém chega a querer se matar de saudade.
Se você estivesse aqui, ma chérie, você ia saber o jeito certo de consertar tudo. Porque você não está, fico crente e canto Jon Secada como um mantra: whyyyyy can’t you stay foreeeeveeeeeeeer Just give me a reason, giiiiiiiive me a reason cause Iiiiiiii Iiiiiiiiiiii don’t wanna say it, I don’t wanna find another way...
Como se traduz isso tudo pro francês? Como se mede saudade?
Me diz, minha querida: co-mo-faz?
Bisous,
(ps. A internet não funcionou quando eu queria ter postado esse post...)
domingo, julho 19, 2009
Estação Uruguaiana
(ou: Quando porteiros e SAARA se encontram)
Ainda está lá na Estação Cinelândia a lojinha de sapatos cheias de scarpins de saltos incrivelmente altos e finos. Ainda está lá na Estaçaõ Carioca toda aquela gente que parece que vai te esmagar no metrô, que medo. Eu ainda confundo Rua da Alfândega com a Senhor dos Passos. A farmácia da esquina ficou completamente destruída. Os pastéis enormes e lindos ainda não me convenceram.
Respiro aliviada ao ver que lupas ainda são vendidas junto a bolsas plásticas de água quente (R$5,00 cada), porque isso parece fazer mais sentido que muita coisa, a maioria delas, na verdade (imagina comprar uma lupa sem uma bolsa de água quente ou vice-versa?). Descubro que os corantes Guarany não produzem mais a tinta bege, e portanto a vida no atelier frente ao fogão de tingimento complicou-se: azul, vermelho, amarelo e marrom nunca dão um bege tão bom quanto o finado. O cáqui que inventaram para substituir também não dá certo. O almoço no restaurante a quilo continua dando 15 reais. O café agora é na Pavelka, muito melhor que a Colombo. Homens de cabelo ralo e barrigas proeminentes continuam andando com pentes de dentes finos nos bolsos de camisas de algodão. A Dona Laura, essa também não mudou, e porque ela continua sendo uma pedra no caminho, e porque ela continua me dando bom dia com uma cara de vômito e um "opa" ("opa"?!), e porque ela ostenta um bigode medonho, tornou-se o meu novo porteiro da noite.
Eu continuo preferindo seda pura, e torcendo por um frio pra usar veludo, mas não tem jeito, no SAARA faz calor até nos dias de temperatura mais baixa, já dá pra sentir da escada rolante do metrô. Na volta pra casa, eu continuo errando a saída e quando vejo estou em frente ao Odeon, pensando em letreiros e filmes.
Em meio a todo o déjà-vu (não me venha sugerir psicanálise), a grande conquista do dia, quiçá do ano, foi o meu novo amor, um desses que aparecem novinho em folha quando menos se espera. Pelo interfone ele me avisou que o reboque estava chegando no meio da tarde de domingo. Desci as escadas num galope com a blusa de ontem, a saia que tinha ficado sobre a cadeira, os cabelos descontrolados, pantufa e meia-calça e salvei meu carro de mais um reboque. E então assim, ofegante e certamente reprovada por qualquer consultora de moda no quesito modelito, me apaixonei perdidamente pelo porteiro da tarde, meu novo herói.
Ainda está lá na Estação Cinelândia a lojinha de sapatos cheias de scarpins de saltos incrivelmente altos e finos. Ainda está lá na Estaçaõ Carioca toda aquela gente que parece que vai te esmagar no metrô, que medo. Eu ainda confundo Rua da Alfândega com a Senhor dos Passos. A farmácia da esquina ficou completamente destruída. Os pastéis enormes e lindos ainda não me convenceram.
Respiro aliviada ao ver que lupas ainda são vendidas junto a bolsas plásticas de água quente (R$5,00 cada), porque isso parece fazer mais sentido que muita coisa, a maioria delas, na verdade (imagina comprar uma lupa sem uma bolsa de água quente ou vice-versa?). Descubro que os corantes Guarany não produzem mais a tinta bege, e portanto a vida no atelier frente ao fogão de tingimento complicou-se: azul, vermelho, amarelo e marrom nunca dão um bege tão bom quanto o finado. O cáqui que inventaram para substituir também não dá certo. O almoço no restaurante a quilo continua dando 15 reais. O café agora é na Pavelka, muito melhor que a Colombo. Homens de cabelo ralo e barrigas proeminentes continuam andando com pentes de dentes finos nos bolsos de camisas de algodão. A Dona Laura, essa também não mudou, e porque ela continua sendo uma pedra no caminho, e porque ela continua me dando bom dia com uma cara de vômito e um "opa" ("opa"?!), e porque ela ostenta um bigode medonho, tornou-se o meu novo porteiro da noite.
Eu continuo preferindo seda pura, e torcendo por um frio pra usar veludo, mas não tem jeito, no SAARA faz calor até nos dias de temperatura mais baixa, já dá pra sentir da escada rolante do metrô. Na volta pra casa, eu continuo errando a saída e quando vejo estou em frente ao Odeon, pensando em letreiros e filmes.
Em meio a todo o déjà-vu (não me venha sugerir psicanálise), a grande conquista do dia, quiçá do ano, foi o meu novo amor, um desses que aparecem novinho em folha quando menos se espera. Pelo interfone ele me avisou que o reboque estava chegando no meio da tarde de domingo. Desci as escadas num galope com a blusa de ontem, a saia que tinha ficado sobre a cadeira, os cabelos descontrolados, pantufa e meia-calça e salvei meu carro de mais um reboque. E então assim, ofegante e certamente reprovada por qualquer consultora de moda no quesito modelito, me apaixonei perdidamente pelo porteiro da tarde, meu novo herói.
segunda-feira, julho 13, 2009
Laranjeiras
Essa história que ficou encalacrada entre o Largo do Machado e o túnel Rebouças, ela volta em detalhes e cheiros quando perambulo pelos brechós da Rua Alice e experimento alguns vestidos verdes, que receberiam elogios quase imperceptíveis se tantas coisas... Mas não compro nada.
Na esquina da mesma rua já não como mais pastéis porque já não vivo mais aqueles dias de Cesaria Évora de manhã, de tomates secos em frente a um filme em língua estranha. Essa história de demorar a dormir pensando em desculpas pouco convincentes pra te fazer entender que a gente não dava certo, mas a gente dava certo, lembra?
Essa história cheia de razões que eu mesma escrevia, ela volta em cores quando passeio por ruas que eram suas, e que continuam no mapa apesar de mim. Essa história, cujo final eu escolhi, quando volta me pega numa saudade tão boa e pouco dramática de nem sei o quê. Essa nossa história de saudade, deve ser isso, fui eu que inventei do começo ao fim.
Na esquina da mesma rua já não como mais pastéis porque já não vivo mais aqueles dias de Cesaria Évora de manhã, de tomates secos em frente a um filme em língua estranha. Essa história de demorar a dormir pensando em desculpas pouco convincentes pra te fazer entender que a gente não dava certo, mas a gente dava certo, lembra?
Essa história cheia de razões que eu mesma escrevia, ela volta em cores quando passeio por ruas que eram suas, e que continuam no mapa apesar de mim. Essa história, cujo final eu escolhi, quando volta me pega numa saudade tão boa e pouco dramática de nem sei o quê. Essa nossa história de saudade, deve ser isso, fui eu que inventei do começo ao fim.
sexta-feira, julho 10, 2009
O twitter é aqui - vol. 2
13h15
Todo dia de manhã engulo água da pia e depois uma porção pequena de flúor oral-B azul e tenho certeza que um dia isso vai trazer algum mal. É que dá muita hipocondria no inverno
13h25
E o batom laranja que nunca sai? Infecção, na certa.
13h30
Tipo o filtro solar. Excesso de fator de proteção na pele, e mesmo assim as sardas se expandem. Não faz nenhum sentido.
13h55
( "E algum trocado pra dar garantia." )
14h22
Sexta-feira eu ganho dois centímetros no alongamento, mas hoje me estiquei tanto que tenho certeza que estou com 1m77. Segunda tudo volta ao normal pra 1m72.
15h18
Algumas coisas, porém, passam a fazer sentido tão de repente: o cd da Cibelle, o nome dos passos de ballet, havaianas (as legítimas), sashimi de salmon.
15h22
E outras ficam à espera de alguma coisa que resolva: esse dia seguinte, tentando estancar saudades.
15h24
( "Pra poesia que a gente não vive, transformar o tédio em melodia." )
15h27
E essa ausência de quadros na parede...
15h29
E esse ipod amarelo, em que momento da vida se escuta ipod?
15h31
E onde diabos foi parar o cd do Grande Circo Místico, caracolis?!
16h50
É alguma vértebra que não tá legal e que inflama desde o pescoço até o cotovelo deixando o braço direito tão pesado e o ombro completamente inútil. Penso: sofrer de amor não parece tão trágico.
16h54
( "E algum veneno anti-monotonia." )
17h00
Faz sentido também quando Tony gargalha mexendo a mandíbula, e só ele deve fazer isso.
17h04
E esses suspiros que duram o tempo exato dessas saudades, que duram bem mais que abraços esquecidos, que percorrem o exato trajeto da dor que começa na garganta e toma de assalto o cotovelo. No fim é tudo a mesma coisa: dói, e é físico.
17h41
( "Ne me quitte pas / Je ne veux plus pleurer / Je ne veux plus parler / Je me chacherai là / À te regarder / Danser et sourire / Et à t'écouter / Chanter et puis rire" )
17h45
Ne me quitte pas.
18h00
É que às vezes parece que o mundo não faz nenhum sentido quando você não participa do Twitter, sabe?
Todo dia de manhã engulo água da pia e depois uma porção pequena de flúor oral-B azul e tenho certeza que um dia isso vai trazer algum mal. É que dá muita hipocondria no inverno
13h25
E o batom laranja que nunca sai? Infecção, na certa.
13h30
Tipo o filtro solar. Excesso de fator de proteção na pele, e mesmo assim as sardas se expandem. Não faz nenhum sentido.
13h55
( "E algum trocado pra dar garantia." )
14h22
Sexta-feira eu ganho dois centímetros no alongamento, mas hoje me estiquei tanto que tenho certeza que estou com 1m77. Segunda tudo volta ao normal pra 1m72.
15h18
Algumas coisas, porém, passam a fazer sentido tão de repente: o cd da Cibelle, o nome dos passos de ballet, havaianas (as legítimas), sashimi de salmon.
15h22
E outras ficam à espera de alguma coisa que resolva: esse dia seguinte, tentando estancar saudades.
15h24
( "Pra poesia que a gente não vive, transformar o tédio em melodia." )
15h27
E essa ausência de quadros na parede...
15h29
E esse ipod amarelo, em que momento da vida se escuta ipod?
15h31
E onde diabos foi parar o cd do Grande Circo Místico, caracolis?!
16h50
É alguma vértebra que não tá legal e que inflama desde o pescoço até o cotovelo deixando o braço direito tão pesado e o ombro completamente inútil. Penso: sofrer de amor não parece tão trágico.
16h54
( "E algum veneno anti-monotonia." )
17h00
Faz sentido também quando Tony gargalha mexendo a mandíbula, e só ele deve fazer isso.
17h04
E esses suspiros que duram o tempo exato dessas saudades, que duram bem mais que abraços esquecidos, que percorrem o exato trajeto da dor que começa na garganta e toma de assalto o cotovelo. No fim é tudo a mesma coisa: dói, e é físico.
17h41
( "Ne me quitte pas / Je ne veux plus pleurer / Je ne veux plus parler / Je me chacherai là / À te regarder / Danser et sourire / Et à t'écouter / Chanter et puis rire" )
17h45
Ne me quitte pas.
18h00
É que às vezes parece que o mundo não faz nenhum sentido quando você não participa do Twitter, sabe?
quinta-feira, julho 09, 2009
The "porteiro da noite" issue
Fazia tempos eu andava com uma certa vergonha do porteiro da noite porque passava sempre das duas quando eu chegava em casa e não importava o dia, porque vida de gente como eu é assim: passa-se a tarde de quinta na praia a beber cervejas e as noites de terça e quarta a debater relacionamentos alheios no baixo. Por causa da vergonha eu decidi ficar em casa, e por causa da aula de dança eu decidi chegar tranqüila, tomar um banho quente e terminar um livro, e por que os vizinhos andam reclamando que a garagem está excessivamente cheia de carros o porteiro da noite veio gentilmente pedir que eu entendesse que não podia seguir estacionando o carro no interior do edifício, que eu entendesse que ele não se opunha ao ato, porém que era preciso também compreender a posição do síndico e dos vizinhos e que eu não poderia ocupar mais uma vaga visto que cada apartamento tem direito a somente duas vagas e veja bem meu bem: porque eu realmente queria tomar um banho e comer eu fui tratando de retirar o veículo da garagem, de tranqüilizar o porteiro da noite dizendo que eles (quantos fossem) tinham razão (sempre), afinal eu estava (há meses) infringindo as leis do condomínio e que eu só havia tomado a drástica decisão de guardar o automóvel indoors por conta de um reboque em que na ocasião o porteiro do dia resolveu ocultar esse detalhe e eu fiquei, chave na mão e luzes de babaca piscando na testa, a procurar o carro na rua. E por causa do vizinho, aquele. O porteiro da noite disse que sim, que o porteiro do dia havia contado a ele. Pedi então que o porteiro da noite me contasse caso o porteiro do dia soubesse que meu carro fora rebocado outra vez, visto que, ao que parece, o entrosamento deles é bem maior que o meu.
Foi então que o jogo virou: já sob a tão sonhada água quente, pensei que o porteiro da noite sempre, sempre mesmo, está a dormir quando eu chego ao prédio. Ele só acorda quando eu já estou em frente ao elevador, esperando e bocejando, e então o porteiro da noite diz frases sem sentido, me chama de outros nomes e volta a dormir no sofá, imagino até que babe. E então em vez de certa vergonha me deu certa raiva desse cara que nunca, nunca mesmo, cumpre o seu papel primordial de me abrir a porta de madrugada, ou de me orientar quando entro com o carro na garagem para que eu não arranhe ainda mais a lateral direita no caminho estreito entre as pilastras. Foi então também que eu me dei conta de que o porteiro da noite sempre, eu disse sempre MESMO, deixava o vizinho, aquele imbecil, estacionar de forma errada ocupando duas vagas, uma das quais deveria ser a minha. De repente me deu o estalo, eu virei persona non grata na garagem do edifício por causa do porteiro da noite, que obviamente é cúmplice não só apenas do porteiro do dia (quiçá do reboque), como também do vizinho.
Foi então, também, que saí do banho, coloquei um vestido e um sapato de salto, daqueles bem barulhentos e irritantes que vão fazendo tec tec pelo caminho e resolvi que essa noite eu só chegaria ao prédio depois das 3 e meia, quando o porteiro da noite estivesse no melhor do sonho. E de taxi. As instruções para o taxista eram de que embicasse o carro na garagem fazendo estardalhaço e que desse uma buzinada que faria com que o porteiro da noite levantasse de um salto. Então eu adentraria a portaria pisando firme em meus saltos tec tec e falando alto como uma bêbada que chega em casa sem idéia do volume. Com sorte eu estaria realmente bêbada, e com mais sorte ainda eu passaria mal na portaria. Ou no elevador. Se fosse um dia em que os astros conspirassem a meu favor, até o vizinho acordaria diante de tamanha confusão.
Foi então que o jogo virou: já sob a tão sonhada água quente, pensei que o porteiro da noite sempre, sempre mesmo, está a dormir quando eu chego ao prédio. Ele só acorda quando eu já estou em frente ao elevador, esperando e bocejando, e então o porteiro da noite diz frases sem sentido, me chama de outros nomes e volta a dormir no sofá, imagino até que babe. E então em vez de certa vergonha me deu certa raiva desse cara que nunca, nunca mesmo, cumpre o seu papel primordial de me abrir a porta de madrugada, ou de me orientar quando entro com o carro na garagem para que eu não arranhe ainda mais a lateral direita no caminho estreito entre as pilastras. Foi então também que eu me dei conta de que o porteiro da noite sempre, eu disse sempre MESMO, deixava o vizinho, aquele imbecil, estacionar de forma errada ocupando duas vagas, uma das quais deveria ser a minha. De repente me deu o estalo, eu virei persona non grata na garagem do edifício por causa do porteiro da noite, que obviamente é cúmplice não só apenas do porteiro do dia (quiçá do reboque), como também do vizinho.
Foi então, também, que saí do banho, coloquei um vestido e um sapato de salto, daqueles bem barulhentos e irritantes que vão fazendo tec tec pelo caminho e resolvi que essa noite eu só chegaria ao prédio depois das 3 e meia, quando o porteiro da noite estivesse no melhor do sonho. E de taxi. As instruções para o taxista eram de que embicasse o carro na garagem fazendo estardalhaço e que desse uma buzinada que faria com que o porteiro da noite levantasse de um salto. Então eu adentraria a portaria pisando firme em meus saltos tec tec e falando alto como uma bêbada que chega em casa sem idéia do volume. Com sorte eu estaria realmente bêbada, e com mais sorte ainda eu passaria mal na portaria. Ou no elevador. Se fosse um dia em que os astros conspirassem a meu favor, até o vizinho acordaria diante de tamanha confusão.
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